Vista na janela do bairro
2023
80 x 70 cm
Óleo e encáustica sob tela
Vista na janela para o bairro, dialoga com as memórias de um lugar outro, que olha para o passado, criando possibilidades para um espaço futuro.
Eu olho para trás,
para algumas memórias aprisionadas
num passado sem bordas
O mesmo campo que já me acolheu,
agora, me expulsa. Me retém
em divisões que eu não compreendo.
Mas ao longe,
nas lembranças sem definições
eu vejo a possibilidade do amanhã.
Meu olhar dança por entre laços
e me põe a conectar
Novos espaços. Novos fechamentos.
Novos planos em um morro de escalas descontinuas.
Feita no início de 2023, a obra traz o olhar de uma figura que direciona o espectador para a esquerda, refém do movimento de retorno que a composição propõe. Esse olhar, que não consegue avançar da esquerda para a direita, só encontra alívio no espaço entre a profundidade das colinas e nuvens ao fundo, que preenchem grande parte da obra.
A obra é claramente dividida horizontalmente, criando o plano superior e inferior. Na parte superior, a figura se harmoniza com as nuvens, e com sua expressão de bem-estar, dialoga com o simbolismo do lúdico. Já a parte inferior se organiza em um movimento radial, onde seu centro, o ombro, é a nascente de todos esses vetores das colinas e das dobras da roupa da figura.
A harmonia do quadro é quebrada pela parede em empasto frio verde, que avança em direção ao olhar do espectador. Aqui, a parede irregular cria uma conexão com uma parede de reboco que contrasta com a imagem que avança para dentro do quadro. Esta linha vertical é uma divisória clara entre os dois vetores para quem vê.
Como todos os trabalhos do artista Romana, sua preocupação com o trabalho matizado se apresenta aqui também. Organizada em uma escala descontínua, usando o verde como base cromática, os terras e azuis criam as gradações de espaço necessárias para a obra. Outras cores em menor proporção, como alaranjados e violetas, formam vibrações sobre o plano, sendo a assinatura visual do artista.
Os movimentos diagonais presentes em todo o quadro criam um diálogo histórico com o maneirismo do século 15, que utiliza dessa estrutura visual de forma enigmática, brincando com o olhar de quem vê, forçando-o a dançar pelo quadro.
O ritmo da obra se organiza em pinceladas justapostas, onde se cria uma vibração entre as luzes da obra. Isso é perceptível nas nuvens, que ganham uma dinâmica mais frontal em contraste com a obliquidade das colinas que empurram o olhar ao horizonte. Esse mesmo reticulado aparece no canto superior, num tecido violeta que cai ao lado da figura. Além de relacionar as linhas em diagonais do quadro, cria uma seta junto à figura, que aponta para a direita.